sábado, 13 de janeiro de 2024

Recorrências


 Recorrências


Jornada exaustiva e longa no trecho

Deveria ser uma viagem curta mas o apocalipse interfere

Por sorte apareceu algo pra ligar a chavinha de poeta adormecida

Remetendo a tempos passados de temperaturas similares do eixo

A vestido de alcinha já me incomodava grudado

Escorria a falta de paciência e o corpo que reclamava 

Enquanto o jovenzinho anacrônico usava figurino

Mais adequado à países onde talvez jamais fosse

Camiseta de banda antiquísima e nada refrescante

Cabelos que venderiam bem esvoaçando em comercial de shampoo

Os olhos rendidos ao chamado do smartphone

Nestes poucos minutos voltei a um tempo que tinha esquecido

E vendo outros cabelos esvoaçantes de antes

Me veio a tua voz e tuas frases tão bem estudadas

Suas homenagens embutidas em contextos aleatórios

Suas críticas nem sempre tão veladas

Seu ritmo e seu virtuosismo em tantos instrumentos

Sua falsa humildade e como manipulava as pessoas serpertinamente

E assim passei do ponto em que deveria descer.


terça-feira, 11 de julho de 2023

Velhos rabiscos

 Encontrei mais uma porção de papéis, recibos, guardanapos e seus devidos poemas seja frente, seja verso! Aos poucos, enquanto faço companhia aos meus em intermináveis internações em hospitais - quando não eu mesma às voltas com 1, 2, 3 COVID com vacinas e tudo, h3n2 e outras coisas de karmas apocalípticas... Aí vai um deles.


Diário da madruga


Zapeando na smartv, companheira dos insones

Surge um clip narrado pela voz alerta da apresentadora

Desfilam décadas de imagens tuas, informes

E o tempo passa a surfas em épocas tão tentadoras.

"Se tudo passa, quando você passa por aqui"

E com que velocidade os nossos tempos passaram

Nossos caminhos paralelos se tornando perpendiculares

As lembranças de quando éramos sobras de vestibulares 

O choque de culturas tão diversas,  tua e minha

A tua mania de implicar com a minha insistência em andar sempre sozinha

Teu apego em constraste com a minha independência

Teu anacronismo e minha mania de vanguarda

Hoje sobras e escombros. E um pós apocalipse de sonhos.

Haverá o além? Vamos poder reviver o que não tivemos também? 

Talvez nunca passe de delírio do momento 

Que antecede a busca pelo estado de adormecimento 


quarta-feira, 13 de outubro de 2021

Tem mas acabou

 Tem, mas acabou

Aquele riso que fazia sorrir
O comentário maroto
A piada que não perdoava
Eu vejo agora sumir

O apoio constante
A companhia qualquer hora
Virou foto que vai amarelar na estante
Foi pelo universo afora

Um dia alguém vai ver as fotos
Perguntar sobre essas pessoas
E eu sobrando desse lado
Como ficam os devotos.




sexta-feira, 11 de junho de 2021

Vira latas

 Vira latas

Sempre aparece inesperado
Com o sorriso afetado
Olhos brilhantes, agitado
Rodando em volta do rabo

Aprendeu a atrair atenção
A ganhar e roer seus ossos
Agradando quem der mais
Lambendo até pescoço

Corre, pula, rola...
Até se finge de morto
Basta que sejam os rykos
Que tragam uma bola

Sempre busca ganhar o bocado
Pedaços de grandes churrascos
Ganha sobras dos entediados
E se crê o dono do pedaço

Vem receber nossos afagos
Que as vezes retribui com dentes
Não importa que machuque
Ser visto te deixa contente

Mesmo assim tem nosso carinho
Sabemos que é chutado
Das portas do mimadinho
Onde só tem cachorro importado

Te consolei quando sofreu
Quando a vida te atropela
Mesmo sabendo que volta
A correr atrás de pneu

Também sabemos que naquele lado
O preço de sobras e trapos
É um chute bem dado
E seu coração em farrapos 















quinta-feira, 29 de abril de 2021

Realidade

 Realidade

Seu costume de olhar fixamente
Ajeitando o cabelinho ao falar
Como se eu não soubesse que mente
E acredita a todos enganar

É muito fértil sua imaginação
Ou então é um tanto psicopata
Já nem tem a dimensão
E vem sempre com sua bravata

Aprendi a lidar com seus esquemas
Sempre num universo alternativo
Assim deixei de ter tantos problemas
E passei a escolher algo mais divertido. 

segunda-feira, 5 de abril de 2021

Quem não quer

 Quem não quer

Mais uma vez você sofreu
Reclama diz que é culpa da vida
Mas é que ainda não percebeu
Que nunca procurou a saída

Quando diz que não tem remédio
Penso que tem até sobrar
Sempre te usam pra matar o tédio
E depois partem sem nem lembrar

Tua escolha causa tua tristeza
Quer sempre quem não te da valor
Quem quis te levantar, despreza
E vive reclamando da dor

A solução, obviamente,
Só você não viu até aqui
Quando decidir somente
Olhar primeiro pra si






quinta-feira, 25 de março de 2021

Lulaby

 

Ficava medindo seus cabelos negros
Com a longa fita métrica 
Fios de linha de pesca firme
Noite escura cheia de segredos

Lembro do policial
Chamando a gente de góticos
A lua de porcelana glitter
Estrelas e a viagem dos trópicos

Um dia viajou sorridente
Dizendo voltar logo
80 km e uma curva
E lá se foi a vida de repente

Jovem pra sempre
O veludo azul marinho
Levou o sorriso e a graça
O mundo ficou sozinho.