Esmeraldas

Puxadinhos, ora verdes,
ora amarelos
realce do kajal -
natural.
Jogo de tons de cinza,
ambar
e caramelo
nenhum olhar
consegue
ser mais belo.

Pique

Enquanto me escondia
enquanto fugia
durante a jornada
ficava quieta
e o silêncio
te cegava
sonora que sou
voz que soou
lenha quebrada
ruído fugaz
agora pegou
e não solta mais.

Desopressão

E lá se vão
levados pelos ventos
bons sopros
dos deuses.
Virá, enfim, a paz?
O tempo dirá
e tempo chegará
em que levantando a poeira
dos séculos
nem pó restará
mas tão somente
o lago límpido
e o luar.

Singelo

Saber da tua união
me faz tão bem
faz aquecer
o coração
ouvir falar de vocês dois
me alegra e conforta
eu quis muito
que tu fostes feliz
mas algo me dói
teu ódio aumenta
e continuas a me agredir!
Vá, então, seu chato
e seja infeliz
como de hábito!

Alvorecer

Deslizando no cetim adormecido
em que brincam as gotas de sol
que furam a neblina do tecido
tênue que divide a canção em si bemol
Espero até o fim dos tempos
se preciso pela pálpebra que abre
trazendo deliciosos pensamentos
a espera de quando me manobre
e neste tempo ocioso tenho pena
de alguém que não sabe esquecer
e se arma de quem é mais pequena
e repete e obedecer sem prazer
no fundo sabem que os desprezo
mas precisam de atenção
mesmo que disto o preço
seja a humilhação

Excusas

Não foi por falta de aviso
nem por conselhos amigos
nem por sinais vitais
nem por tudo o mais.
Foi por ter encoberto
com o tamanho do teu ego
a importância do outro
pensando que ia e vinha
livre transito, vale tudo.
Volto a lembrar que na vida
para poucas existe uma lei:
vale por curto período
a ação de querer bem
e por toda a eternidade
livrar-se do mal de alguém!

 

Lapso

Ateu de boca cheia
rebelde de boutique
pensando ser gênio
se julgando tão chique...
E vazia chega a idade
de pares e aduladores
de cifrões e notoriedade
gerando dor e desengano
trazendo ansiedade.
Agora aceita as carolas
com sofreguidão
o que vier é lucro
e passa a repetir
palavras do santo sepulcro!
Burlando a autoestima
vem elas a engrossar
o rol da desilusão
e o teu espoliar!

 

Legitimidade

Sem saber de ti...
Estava vivendo cada dia
quando chegaste pleno
de falsa alegria
e promessas vazias.
Com trabalho convenceste
a mais incrédula
de que suas diretrizes
fixaram raízes.
O prazo que marcaste
a linha final que fixaste
o dia aprazado
atrasado
nada perdurou
do que decretaste eternidade
gerei mil prosperidades
desbaratados os planos
já que não faz, façamos
abatestes tantas vidas
teu para sempre
não durou nem um ano.

Sua amargura

Oh o que sinto ao ouvir de sua dor
de suas lágrimas e lamentos
sua fala de faltas, insonias, dissabor
a cada ''amiga'' que me vem contar
interceder e te elogiar
oh, o que sinto então!
E quando me delicio com alguém
e outros, sobre você, sempre vem
o que eu sinto ao saber
o quanto você diz sofrer
Ah, eu sinto, e sinto tanto
ao de ti ouvir o silêncio
mas saber teu grito amargurado
e o que pensas estar por vir
Sinto aquela incontrolável
vontade de pular, girar e sorrir!

Valendo

encher os dias, horas, minutos e frações de segundo
fazer brilhar, mesmo em chuva, o mundo
faíscas emergem do cristal líquido e do virtual
um mundo a parte que é tão real
sem cuidado, sem frescura, sem problema
chequei a não te avisar dos perigos
e falo ou não canto, é um dilema
tudo tão novo e sem fronteiras
deixei queimar na torradeira
derramo fogo onde passo
e espero que nunca esconda
o teu abraço
Mas, porém, contudo, todavia
não chore quando do adeus chegar o dia
tudo que hoje queima vira cinza!

Amor ao ódio

Melhor mil vezes odiar
esvaziando o mar
e a terra secando
apagar, rasgar, queimar
varrer em vez de juntar
sumir, desaparecer e fugir
e ao se deparar com pedra no caminho
chutá-la de coturno!
Esquecer e seguir para muito longe
sempre em frente, sempre quente,
brilhante e saíndo faíscas!
Nada de nhenhenhe
de mimimi
Pois Vinnie tem razão
melhor o ódio!
Quanto se constrói em nome do ódio!
Cabelo novo, roupa nova,
lugares novos, povo novo
quanto se progride!
O amor é parado,
fica lá atrás
vivendo de passado.

Normativa

Pare de me perguntar
não tente arguir ou questionar
deixe de lamentar
aprenda a não anojar
que quer dizer:
não se fazer sofrer!
Se teu nome me faz bocejar
e meu trejeito te magoar
não te faça sofrer!
Antes siga este preceito
se neste momento o que eu amo
daqui a cinco minutos já esqueci
e não sobra nem lembrança
se passo a vida nesta dança
não podes culpar a ti!

Clarificar

Cinza gelo
nebuloso rincão
nuvens carregadas
escuridão
doce luz que vem surgindo
cores esvoaçantes
perfume de jardim florido
jasmin, talco de bebês
tudo secando, lindo!

Orquestrar

Teu sangue latino em oposição
a pedra que sempre acusaste
ser meu coração
nórdico em contrase
teu seminal comportamento
tuas poucas coisas
e esvaziar o apartamento
não chore, isso não condiz
com teu falso modo e imagem
de aparentar serenidade
e mostrar ser feliz

Postigo

Rótula de fasquias de madeira 
com que se tapa o vão de uma janela; 
rótula,
Mistério de janela de rótula.
Pequena porta que se abre
 em outra maior.
E assim em janelas,
vigias e goteiras dos navios,
Ala ou painel.
Verdes?
Azuis?
Guardados por negros
fios, 
e meus desejos
sombrios.

Verbos desejados

Desejo que tenha em mente estes verbos
deixar de ser visto; sumir; ocultar-se; esconder-se.
Cessar de existir; morrer.
Apagar-se, ofuscar-se.
Retirar-se, afastar-se.
Faltar, perder-se.
Fazer sumir; 
apagar, extinguir, destruir; atenuar: 
Lembrar que o  tempo não desvanece mágoas.
Nem atenua o que encher de orgulho, 
vaidade ou presunção.
Seus elogios não me desvanecem.
Desbotar, desmaiar, esmorecer: 
desvanecer-se o brilho.
Apagar-se, dissipar-se,
 dissolver-se, desfazer-se, 
extinguir-se: 
as trevas desvaneceram-se.
E que nelas mergulhe
se pensar em mim.

Anelotti

Céu de outono
alaranjado e cinza
num claro escuro
de fim de tarde
seu beijo
sopa quente
envolvendo
capelletti
nuvens macias
de sonho azul.

Celutar

Este senhor
nada sensível
trazendo impactos
do invisível
bater de dedos
pisar de pés
hipnose luminosa
letras e caracteres
canções duvidosas
compromissos
dizeres omissos
vozes de além
somos escravos
deste aparelhinho
nada salutar!

Depois do fundo

Era um dia de sol o último que viste

teu último sorriso de paz

nossos rostos banhados

em um sorriso triste

tudo para te demonstrar

quanto foste forte

força que nos abandonou

tão logo tu te foste

e os dias de sol, e escuros

já se sucediam no tempo

que foi empoeirando

e amarelecendo

e nós aqui sobrando

as marcas surgindo

implacáveis

e sem saber pra onde

continuamos seguindo.

Cabos

Fios
hologramas
virtuais
algemam
prendem
seguram
exploram
correntes
emocionais.

Fórmula básica

A energia
dos teus vinte e poucos
mais escipiente q.s.p.
alguns miligramas de suor
centenas de fios brilhantes
decantar
sacudir e parar
parar e sacudir
e está pronto
para consumação!

Descaminhos

Pegando estrada
linhas, aventuras
ar fresco, desconhecido
brilho e sombra
brilho e cor
claro escuro
meia luz
destino insondável
imprevisível!

Café com fogo

Ah, o inesperado!
As xícaras espalhando bege
os talheres fazendo os sinos
e o sorriso bobo, de bocona aberta
o olhão parado
aquele cheiro morno de pães
tudo tão luxuriante
aos sete sentidos
e o objeto alheio
barba por fazer dourando
como os croissants
fios de cabelos cor de gema
misturados aos de chocolate
lá do alto
levando o apetite!

Adoçante

Seu sorriso espontâneo
derretendo qualquer torrão
seu olhar brilhante
eliminando qualquer preguiça
palavras positivas
exterminadoras de tristeza
aquele Hmmmmm
de boca cheia d'água
me faz postergar
os métodos infalíveis
de desaparecer da terra!

Eme, esse, ene, ame!

Teus olhos violeta na janela do windows
que lindo!
Luzes prateadas nos cabelos
sinais no rosto vivido
covinhas, luz
ar iludido
expressão, canção
coração derretido.

Denúncia

Este caso indiscreto
com cheiro forte
sanduíche de mortadela
sobremesa mexerica
digestão difícil
dura aceitação
e daí tantos mexericos
tantos bafafás
acabou em azia!

Dalai Lama telling funny story and laughing

Percalços

Sentado com jeito blasé
aparetando desdém
mostrando sentir-se o cara
mas sentindo-se ninguém
sorrindo por educação
acenando restritivo
seus pensamentos também
bastante repetitivos
os momentos se sucederam
pessoas se alternaram
novidades e incidentes
para sempre te soterraram.

Tua sociedade

Contador de acessos virando

mensagens, palavras vazias 

tudo isso para enganar tua fome

e disfarçar o vazio dos seus dias

convites, fotos em grupo, garrafas,

desfocados da real situação

seu mundo lotado de faltas

seu grupo seleto e impenetrável

de gente sorridente, mas dolorida,

sofrida, mais amarga que o drinque

que aparece sorridente

fingindo uma incrível atividade

para encobrir o triste fato

de jamais ter tido felicidade

ao lado dos excluídos

com seus poucos e verdadeiros

que deixaste sem resposta

que apagaste as demonstrações

sorrio sentindo alegria

que jamais tiveste um dia

Elis Regina

O sorriso escancarado

a voz maviosa

o rosto alegre

os olhos travessos

quem diria


amargura escondiam!